Eu te amo, mas escolhi a boemia


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Um semestre de neura e aflição
Uma quinzena de alienação
Pode também chamar de reflexão
Só não chame de rebelião

Ih, tá rimando
Deixa rimar, deixa estar
Ah, eu não tô mais ligando
Deixa estar, deixa rimar

Mas que bosta, a rima é pobre
Quis fazer rima rica naquele dia
Quando te vi na encosta, roubando cobre
Sua feição antipática enquanto eu ria

Eu me lembro que ao me despedir
Um desgraçado mudou meu caminho
Disse a todos que ia dormir
Ao invés disso entornei um vinho

Então que todos os Egos
E, por que não, todos os elos
Arranjem para suas almas uma bóia
Porque eu vou afogá-las, sem metanoia

Talvez você se pergunte
E quanto a Tu?
Peço que os fatos você junte
Não rima com Belzebu?

Ah só a boemia
Pra me livrar dessa agonia
De elaborar mais uma teoria
Bem temperada com ironia

Vou então pra Porto Seguro
Vou à busca da serenidade
Não é minha culpa ser tão imaturo
A ponto de crer na humanidade

Eu te amo, mas eu escolhi Ego - parte 2


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Negação

“Não, o “Elo” não está morto, não pode estar.” – disse Ego olhando atônito para o que poderia ser o cadáver daquele.
Tu permanecia inerte, envolto em seus próprios pensamentos e preocupações, mas cada vez que dirigia a palavra a Ego, esse tinha certeza que se tratava de um sinal de vida do “Elo”.
“Isso não pode estar acontecendo” – pensou Ego quando o silêncio fúnebre voltou a reinar. Interrompendo a calmaria surda, o som da ambulância, que chegou para socorrer tardiamente o “Elo”, ficou gravado na memória daquele.
“Como você se sente?” – perguntou alguém, depois de alguns dias.
“Eu estou bem. Não sinto nada.” – a resposta dada a essa pessoa era a mesma que Ego repetia para si mesmo, como um mantra, para tentar se convencer de que estava bem, ou que não sentia nada.
Continuou levando sua vida normalmente, trabalhando, lendo, fazendo todas as suas obrigações, como se nada tivesse acontecido. Decidiu fechar seus olhos a qualquer evidência da ausência do “Elo”.
“Só pode ser um pesadelo.”


Raiva


“Não é justo! Por que isso está acontecendo comigo?!” – não podendo mais negar o fim do “Elo”, sentimentos de frustração tomaram conta dos pensamentos de Ego.
“Eu fiz tudo o que eu pude, fiz o máximo que dei conta.” – não eram palavras de um vencedor, ou de alguém orgulhoso, mas eram palavras carregadas, que serviam de prelúdio para as próximas.
“A culpa é de Tu. Ele não fez absolutamente nada pelo “Elo”. Sim, a culpa é dele!” – e não demorou muito até que em uma explosão raivosa Ego manifestasse sua opinião, acrescentando também “Por que só eu me importo?” e todos os sentimentos suprimidos nos dias anteriores agora saíam como uma enxurrada.


Barganha


Já não sentia mais a raiva, essa deu lugar a uma espécie de esperança desesperada. “Se eu fizer isso, o “Elo” vai voltar”, “Talvez com aquilo eu consiga um “Elo” novo” dominaram seus pensamentos, cegos pensamentos que não viam que Ego não tinha nada mais a oferecer, que o que poderia ter sido feito, já deveria ter sido feito.
Novamente procurou Tu, “foi o nosso “Elo” que morreu, talvez nós juntos consigamos trazê-lo de volta”, e deu-se início a uma humilhante campanha em favor do “Elo” morto.


Depressão


O desespero dos dias da cólera e da barganha dão lugar ao desânimo. “Só podemos ter certeza de uma coisa: do fim” – Ego pensa durante longos momentos de reflexão
“Vamos todos morrer” é tudo o que vê, apenas finais horríveis, sem nenhuma esperança. Ignora o que os amigos dizem sobre como tudo vai ficar bem, ou “você vai sair dessa”. Sua produção está dramaticamente reduzida e “some” por várias vezes durante o dia. Sente-se vazio.
Apatia, tristeza e desinteresse alternam entre si enquanto Ego desiste mentalmente de seus planos, de seus relacionamentos e da vida, porque “tudo vai acabar mesmo”.
Rejeita silenciosamente a companhia de todos, mas pouco a pouco seus amigos e familiares começam a o ajudar a enxergar a vida de outra perspectiva e a procurar em outros lugares o que o “Elo” representava.


Aceitação


“Vai ficar tudo bem” – uma esperança calma surge em seu coração.
Não esqueceu o “Elo”, nem o seu fim, mas está começando a levar a sua vida sem ele. “Essas coisas acontecem mesmo”. "Será frio, será ausência" foi suavemente dando lugar a "será paz, será paciência."
Começa a colocar tudo em ordem, sua vida, seus pensamentos, mas sabe e aceita bem o fato de que as marcas deixadas pelo “Elo” são eternas e que nunca mais será o mesmo, mas “vai dar tudo certo”.
Entendeu que o “Elo” é passageiro, é efêmero, e que apesar de forte, é frágil, e vai levar esse conhecimento para junto de si, enquanto cuida dos seus tantos outros “Elos”.
Ego encontrou Tu outro dia desses, e cada um sorriu: um por educação, em nome dos velhos tempos, o outro sorriu com a serenidade da resignação. Então cada um seguiu o seu caminho.












































*Lembrando que acabei de escrever isso às 02:12 da manhã, e não revisei, então que se lasquem os erros*

Eu te amo, mas eu escolhi as músicas


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Bloqueio criativo de novo. Mentira, não é bloqueio criativo, é vergonha de postar mesmo. Então vou postar as músicas que embalaram minha semana. Como de costume, a letra delas diz MUITO, mas MUITO sobre o que aconteceu.


Let It Die (Ego Version)

Let It Die (Tu Version)





Eu te amo, mas eu escolhi te deixar


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Deixei o cigarro. Não foi fácil, depois de tantos anos, mas eu o deixei. Achei que fazendo isso perderia a sensação de estar errando o tempo todo, mas não perdi. Ainda assim, deixei o cigarro.

Parei de beber. Joguei todos meus whiskys, vinhos e vodkas ralo abaixo. Foram anos adquirindo uma louvável adega, mas eu parei de beber. A sensação do erro ainda permaneceu.


Larguei o jogo. Fichas de pôquer, baralhos, roleta e qualquer tipo de aposta estão agora fora da minha vida. Não é blefe, eu larguei o jogo. Ainda me sinto errado.


Não bebo mais café. Seus benefícios são comprovados cientificamente, mas eu não bebo mais café. É difícil, sendo neto de cafeicultores, mas eu não bebo mais café. Estou pra baixo ainda.


Vendi meus jogos eletrônicos, minha televisão, meu computador, meu tocador de música, meus CDs, meus discos, meu violão e meu piano. Pensei que eram eles agora que me deixavam triste.


Deixei o cigarro, parei de beber, larguei o jogo, não bebo mais café e vendi minha diversão. Achei que se eu tentasse mudar, abandonar meus vícios, a dor seria coisa do passado. Mas a dor não está no passado.


É verdade, foi tudo em vão. Mas finalmente eu sei o que fazer. Eu devo deixar, parar, largar e não mais consumir você.